(mapa interativo)
Uma composição de palavras intrigante, afinal, quando pensamos em passeata, pensamos em reivindicação. E fashion, algo relacionado ao mundo da moda, e distante dos pobres mortais, afinal, a rua é o território onde os indíviduos se mortalizam. Deste modo, a aproximação dessas 2 palavras, cria um significado curioso ... Como a moda reivindicasse algo. Intrigada, fui lá pra conferir.
Num exercício de etnografar a primeira passeata Fashion, fui caminhando atrás, nas bordas, à frente e ao lado. Observando a composição dos (das) modelos que estavam posicionadas em fila indiana, em meio a rua, e sobretudo, olhando para quem as observava.
Fotografei: não parava e abordava quem me chamou atenção, simplesmente recortava aquele momento, para não ficar algo construído e pensado, como posar para uma foto, tentei fazer com que tudo ficasse com a cara da rua, do inesperado.
A passeata saiu do Largo do Arouche, região central da cidade de São Paulo. Concentração às 13h - saída às 14h30. Seguindo pela avenida São João, Duque de Caxias, passando em frente à Sala São Paulo, pelo antigo prédio do DOPS, hoje chamado de Museu do Imaginário e a Estação Pinacoteca; Contiinuando, a frente a estação da Luz, em sua lateral o Museu da Língua Portuguesa, em frente o jardim da praça da Luz, e em anexo a Pinacoteca.
Ali estavam todas os modelos expostos aos olhares dos transeuntes que pouco compreendiam o que estava acontecendo. Mas estavam atentos! Afinal, eram mulheres e homens, vestidos de uma maneira 'diferenciada' do cotidiano. Composições de cores chamativas, ou monocromáticas, vestes feitas com tecidos amarrados, costurados ou pendurandos... Sápatos altos, baixos ou descalços.
Apasseata estacionou na entrada do Parque da Luz, ficou um 'burburinho' concentrado, os pedestres puderam conferir e dar um palpite mais de perto do que se via.
Ouvi " um concurso de beleza com roupas exóticas'? O que se via dali eram modelos com maquiagens de tonalidade branca, com aros na cabeça.
Na calçada acontecia um culto evangélico pentecostal, se colocaram como nada tivesse acontecendo ao seu redor.
Ao entrar no parque em direção ao corpo de jurado, que estavam no coreto, ouvia-se músicas que embalaram tons de protesto na ditadura, e sobretudo, surgidas no movimento da tropicália. Como Alegria, Alegria... "caminhando contra ao vento,sem lenço e sem documento", na voz de Caetano. Ou um pouco de Secos de Secos e Molhados ¨Mas as pessoas na sala de jantar. São ocupadas em nascer e morrer"...
Logo me posicionei na proximidade do corpo de jurados e fiquei observando as apresentações do concurso. Looks inesperados, poucos chamaram a atenção. Mas outros, chamavam atenção pelo minimalismo e por sua construção estética.
Dentro do parque, após as apresentações do concurso, o intervalo foi embalado por uma apresentação de uma trupe de teatro, que deve acontecer por lá aos domingos. Curiosamente, a cantiga da apresentação se iniciava com uma das personagens pedindo um vestido ao marido, e uma viagem... Alguns ficaram ali olhando, outros se dispersaram ...
A impressão de tudo que se passava ali, trazia em si a composição única daquele espaço, afinal, estavamos no Parque da Luz. A sensação foi de uma grande intervenção urbana.
Enquanto todos se posicionavan pra ver o desfile d'Asgêmeas, de repente surge uma mulher, com uma sacola em mãos, com o rostos e a voz vibrante de raiva querendo saber quem havia iniciado uma música que não era esperada por ela. Certamente, teria sido colocada por novatos daquele espaço. Logo ela sumiu, tudo se resolveu, se formou um círculo humano para o inicio do desfile.
As modelos saiam de dentro do coreto central, e seguiam na alameda do parque, mas antes de ingressarem no piso da alameda, tinham que caminhar de salto nos pedregulhos ... fato curioso. Parque, pedregulho, salto, desfile ... Bom, ali se apresentou o desfile roupas com babados, fios de linha, metais e cetim com costuras bem demarcadas e definidas. Aplausos.
Ainda no parque show de 2 bandas e a apresentação do resultado do concurso da passeata fashion. Foi um bom domingo no parque, tendo como referênca letra da música de Gilberto Gil, em que as situações menos esperadas podem acontecer.
*Segundo o dicionário Houaiss, 2001. Passeata quer dizer marcha coletiva em protesto, reinvindicação