A moda pode ser compreendida como um sistema que integra tempo, estilo e cotidiano[1], posicionamento social e político. A partir de março de 2010, ela deve ser considerada como parte da cultura brasileira. Entretanto, há pouca evidência do seu processo de formação como parte da cultura brasileira. Historicamente, as iniciativas de promoção à moda sempre estiveram limitadas à sociedade civil, diferentemente da música, do teatro ou da dança.
Os estudiosos paulistas dos anos 1950 criticaram os estudos relacionados à moda tanto na hierarquia acadêmica, quanto na relevância científica. Florestan Fernandes (1920-1995), sociólogo brasileiro, criticou a tese de doutorado da filósofa Gilda de Melo e Souza (1919-2005) intulada A moda no século XIX: ensaio de sociologia estética. Florestan considerou sua tese um tema frívolo, fútil ou coisa de mulher[2].
Porém, enquanto os pesquisadores discutiam a relevância do tema, a moda se movimentava e se constituía como fenômeno social ao redor do mundo. A partir do final dos anos 1940 até hoje, a moda vem marcando gerações, construindo e rompendo estilos. Novas técnicas na confecção das vestimentas foram incorporadas, tanto no corte como na silhueta. E a forma de se vestir, além de demarcar socialmente o indivíduo, passou a indicar sua posição social e ideológica, gostos e estilos de vida.
No Brasil, o marco são os anos 1950, mais especificamente 1951, com a publicação[3] da revista O Cruzeiro das “Dez mais elegantes”. Os protagonistas desse cenário são industriais, jornalistas e editores de revistas, estilistas, fotográfos, modelos e intelectuais.
Os industriais fomentaram associações; a mídia passou a conviver entre os profissionais de moda. Saberes são colocados em xeque e a educação formal virou uma necessidade.
Primeiro houve a tecnificação, que ocorreu no final da década de 1960[4]. Nos anos 1980, houve a organização do saber com as primeiras escolas[5] e faculdades[6] de moda. Nos anos 1990, surgiram as primeiras instituições de negócios[7] que completaram a tríade dos campos interessados em movimentar o cenário da moda brasileira.
Entretanto, não é fácil encontrar dados sobre a formação da moda no Brasil. O parco material encontrado nos dá pistas de que há lacunas a ser investigadas.
Biografias de estilistas e suas coleções, manuais de moda, revistas, dicionários, livros acadêmicos[8] e almanaques tendem a valorizar os aspectos estrangeiros[9] e secundarizam a formação da moda no Brasil.
Portanto, se faz necessário pesquisas e publicações que preencham as lacunas para compreender como a moda se desenvolveu no Brasil. Analisando os aspectos históricos, sociais e econômicos que fomentaram a institucionalização da moda como cultura.
[1] JOFFILY, Ruth. O Brasil tem estilo? Rio de Janeiro: Senac Nacional, 1999.
[2] PONTES, Heloísa. A paixão pelas formas. Novos Estudos: CEBRAP, São Paulo, n. 74, mar. 2006.
[3] Coleção Moda Brasileira. Cronograma Histórico da Moda Brasileira (1950-2008). São Paulo: Cosac & Naif, 2003.
[4] Em 1967, foi introduzida a disciplina Desenho de Moda nos cursos superiores de Desenho e Plástica, na Faculdade Santa Marcelina.
[5] Em 1984, a escola de corte e costura Sigbol. São Paulo, SP.
[6] Em 1984, iniciam-se as primeiras turmas no curso de graduação de Moda na Faculdade Santa Marcelina.
[7] Em 1990, a universidade Anhembi Morumbi criou o curso superior Negócios da Moda.
[8] O ensino de sociologia da moda, na faculdade de Ciências Sociais da Universidade São Paulo, contém poucos livros em português.
[9] Almanaque Folha http://almanaque.folha.uol.com.br/moda_index.htm
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Michelle Medrado é antropóloga formada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e tem pós-graduação pela Faculdade Santa Marcelina. Lecionou no Senac São Paulo de 2005 a 2010. Hoje mora em Los Angeles e atualmente está estudando na UCLA no curso “The Business of Creativity. Tem uma grife, que leva o seu nome, de acessórios feitos em tecidos tecnológicos.
Os estudiosos paulistas dos anos 1950 criticaram os estudos relacionados à moda tanto na hierarquia acadêmica, quanto na relevância científica. Florestan Fernandes (1920-1995), sociólogo brasileiro, criticou a tese de doutorado da filósofa Gilda de Melo e Souza (1919-2005) intulada A moda no século XIX: ensaio de sociologia estética. Florestan considerou sua tese um tema frívolo, fútil ou coisa de mulher[2].
Porém, enquanto os pesquisadores discutiam a relevância do tema, a moda se movimentava e se constituía como fenômeno social ao redor do mundo. A partir do final dos anos 1940 até hoje, a moda vem marcando gerações, construindo e rompendo estilos. Novas técnicas na confecção das vestimentas foram incorporadas, tanto no corte como na silhueta. E a forma de se vestir, além de demarcar socialmente o indivíduo, passou a indicar sua posição social e ideológica, gostos e estilos de vida.
No Brasil, o marco são os anos 1950, mais especificamente 1951, com a publicação[3] da revista O Cruzeiro das “Dez mais elegantes”. Os protagonistas desse cenário são industriais, jornalistas e editores de revistas, estilistas, fotográfos, modelos e intelectuais.
Os industriais fomentaram associações; a mídia passou a conviver entre os profissionais de moda. Saberes são colocados em xeque e a educação formal virou uma necessidade.
Primeiro houve a tecnificação, que ocorreu no final da década de 1960[4]. Nos anos 1980, houve a organização do saber com as primeiras escolas[5] e faculdades[6] de moda. Nos anos 1990, surgiram as primeiras instituições de negócios[7] que completaram a tríade dos campos interessados em movimentar o cenário da moda brasileira.
Entretanto, não é fácil encontrar dados sobre a formação da moda no Brasil. O parco material encontrado nos dá pistas de que há lacunas a ser investigadas.
Biografias de estilistas e suas coleções, manuais de moda, revistas, dicionários, livros acadêmicos[8] e almanaques tendem a valorizar os aspectos estrangeiros[9] e secundarizam a formação da moda no Brasil.
Portanto, se faz necessário pesquisas e publicações que preencham as lacunas para compreender como a moda se desenvolveu no Brasil. Analisando os aspectos históricos, sociais e econômicos que fomentaram a institucionalização da moda como cultura.
[1] JOFFILY, Ruth. O Brasil tem estilo? Rio de Janeiro: Senac Nacional, 1999.
[2] PONTES, Heloísa. A paixão pelas formas. Novos Estudos: CEBRAP, São Paulo, n. 74, mar. 2006.
[3] Coleção Moda Brasileira. Cronograma Histórico da Moda Brasileira (1950-2008). São Paulo: Cosac & Naif, 2003.
[4] Em 1967, foi introduzida a disciplina Desenho de Moda nos cursos superiores de Desenho e Plástica, na Faculdade Santa Marcelina.
[5] Em 1984, a escola de corte e costura Sigbol. São Paulo, SP.
[6] Em 1984, iniciam-se as primeiras turmas no curso de graduação de Moda na Faculdade Santa Marcelina.
[7] Em 1990, a universidade Anhembi Morumbi criou o curso superior Negócios da Moda.
[8] O ensino de sociologia da moda, na faculdade de Ciências Sociais da Universidade São Paulo, contém poucos livros em português.
[9] Almanaque Folha http://almanaque.folha.uol.com.br/moda_index.htm
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Michelle Medrado é antropóloga formada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e tem pós-graduação pela Faculdade Santa Marcelina. Lecionou no Senac São Paulo de 2005 a 2010. Hoje mora em Los Angeles e atualmente está estudando na UCLA no curso “The Business of Creativity. Tem uma grife, que leva o seu nome, de acessórios feitos em tecidos tecnológicos.
Matéria originalmente publicada na minha coluna "Acadêmico" na Capricornia.