A presente pesquisa demonstra como a arte e a moda, por meados do final século XVIII, vão incluir em sua produção novos materiais, inaugurando uma nova estética e linguagem, e atribuindo a si, novos significados e valores.
Portanto, o conteúdo foi preparado com uma rápida apresentação dos novos materiais para produção de uma obra de arte.
Em seguida breve exposição dos novos materiais na moda, as chamadas fibras têxteis sintéticas, contando sua história e seus usos, e a observação tátil destes citados materiais.
Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo apresentar a revalorização da matéria na arte e no designer no século XX. A abordagem do tema será construída como a arte contemporânea compreende a revalorização da matéria, os movimentos artísticos que interagem neste cenário de ruptura. A correspondência dos novos materiais no universo da construção das vestimentas.
Novo, nouvelle ...
Segundo Eco, é a arte contemporânea que descobre o valor e a fecundidade da matéria. Isto não quer dizer que outrora, os artistas não se preocupassem com ela, embora soubessem que era preciso dialogar e nela encontrar uma fonte de inspiração. Considerava-se, contudo que a matéria era por si mesma informe e que a Beleza surgia depois sobre ela, podendo ser uma idéia ou forma impressa. É neste contexto, que a estética contemporânea emerge com a inquietação no que tange a matéria. Assim, a matéria não é apenas o corpo da obra, mas também é o seu fim, o objeto do discurso estético.
A arte contemporânea é um período artístico que se afirma no desenrolar do século XX, propondo reflexões sobre o estado da arte. Neste cenário em que a arte se interroga, ela também atribui novos significados, e se apropria de novas imagens, não só as que fazem parte da historia da arte, mas também as que habitam o cotidiano. O belo contemporâneo não busca mais o novo, nem o espanto, como as vanguardas da primeira metade deste século: propõe o estranhamento, o questionamento da linguagem e sua leitura.
O moderno está ligado à idéia do novo, assim, traz consigo vontade da pesquisa, resultando então, na busca de novos materiais, serão incorporados novos objetos, sons, cores, formas e linguagens que nunca foram considerados adequados para produção da arte.
Alguns artistas embarcaram nesta perspectiva da produção de arte, dentre eles, Marcel Duchamp 1, que em 1913 disse ‘ Pode alguém fazer obras que não sejam de arte?’. Este questionamento anuncia uma mudança radical na prática do artista, dando inicio ao rompimento das idéias tradicionais da arte, ou seja, o que é levado e avaliado para ser uma obra de arte. (grifos meus)
O momento da pronuncia da frase citada acima, coincide com o período no qual começou a conceber os objetos denominados ready-made, e que os mesmo poderiam ser produzidos em massa; Eram objetos selecionados aleatoriamente, e compunham criações, os levando ao estatuto de obra de arte. Acreditava que com isso, atribuiria desprezo pela arte e seus valores tradicionais.
Foi então, que em 1917, M. Duchamp apresenta A Fonte, um urinol de porcelana, que as insígnias R. Mutt. Uma de suas obras mais conhecidas.
Com um propósito bastante provocativo sua intenção era notar como cada objeto pode manifestar aspectos formais ao quais raramente se dá atenção. No momento em que são descobertos e isolados, ‘ enquadrados’, oferecidos à nossa contemplação, estes objetos carregam-se um significado estético, como se estivessem tido manipulados pela mão de um autor. (ECO:407, 2004).
Anos mais tarde Andy Warhol2, conhecido por participar do movimento Pop Art, advertindo que a perspectiva da matéria já não é natural, mas é detrito industrial ou objeto comercial; Retrata a imagem da Monalisa em pôster3, obra de Leonardo da Vinci, 1503 -1507, óleo sobre madeira de álamo, 77 x 53 cm.
Neste caso o artista se faz porta-voz da polêmica contra o mundo industrializado que o circunda, expõe os achados arqueológicos de uma contemporaneidade que se consome dia após dia, petrifica em seu irônico museu as coisas que vemos todos os dias sem que nos demos conta de que elas funcionam a nossos olhos como fetiches. (...) Nos ensina a amar estes objetos, nos lembra o universo da indústria também tem “formas” que podem comunicar uma emoção estética. (ECO:409, 2004).
E a Moda ?
Até o final do século XVIII a Moda tem no seu contexto formas, linguagens, tecidos e produtores que são considerados tradicionais para a produção de uma vestimenta, a chama da Alta Costura.
É com a invenção da máquina de costura4, que Moda se coloca na ponta da produção tecnológica, pois na Alta-Costura, as criações são artesanais e modelos exclusivos.
Mais tarde, está produção em massa de roupas será chamada de Prêt-à-Porter5, isto é, roupas compradas prontas para vestir.
E neste momento, que a forma e a produção das vestimentas estão passando por transformações, também é o período que a moda revaloriza a composição dos seus materiais, que coincide curiosamente, com o tempo histórico da arte.
A moda no contexto da revalorização dos materiais.
A matéria-prima, que constrói a forma e a estética das vestimentas, são os tecidos, eles são diversos e com muitas texturas e cores.
Segundo a catalogação de tecido citado no livro de Dinah Bueno Pezzolo, existem no mercado 232 tipos de tecidos, das mais diversas composições e estampas.
Na história dos tecidos sua composição já se deparou com diversos componentes como fios de cabelo trançados manualmente.
No contexto histórico das fibras naturais vegetais, conta-se que o Linho, apareceu cerca de 10.000 a.C, nas regiões da Mesopotâmia e Egito; a Lã, cerca de 7.000 a.C, na região da Mesopotâmia; o Algodão cerca de 3.000 a.C, nas regiões do Paquistão e Índia e a Seda cerca de 2.700 a.C, na China. Fibras como o cânhamo, o junco, a palmeira de diversas espécies e o papirus, não têm datas especificas que delimitem seus usos e suas trocas, mas o que se sabe e que estão há tempos no mercado têxtil.
Vale ressaltar, que a fibra é a menor parte do tecido, algo como um átomo, ou seja, a menor partícula de matéria com características químicas definida, para formação de um tecido é necessário unir fios ou fibras para que se obtenha uma estrutura dimensional. (Chataigner, 2007: 28).
As fibras podem ser classificadas por: contínuas e descontinuas; sintéticas e acrílicas; químicas; genéricas.
Neste trabalho o que é interessante saber são as fibras sintéticas e acrílicas.
As fibras sintéticas são obtidas pela fiação de macromoléculas que resultam da síntese e depois da polimerização de monômeros multifuncionais. As principais são: poliamida, poliéster, acrílico e clorofila. Pertencem ao grupo de fibras químicas.
As fibras acrílicas proporcionam boas condições de produção e ótimas capacidades técnicas. Pertencem às mais leves fibras sintéticas e são mais resistentes do que a lã, são duráveis e protetoras a agentes externos. Pertencem ao grupo de fibras sintéticas.
Na trajetória histórica as fibras sintéticas em acetato de celulose aparecem em 1869, na Alemanha. Este material na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a novíssima descoberta é utilizada para finalidade bélica, revestindo aviões franceses e britânicos.
Em 1920, o acetato volta a ser produzido comercialmente resultando em novas descobertas e usos. Entre 1928 e 1929, Wallace H. Carothers pesquisa a natureza dos polímeros (aglomeração de moléculas fundamentais), proporcionando a inovação das fibras sintéticas. Em busca de novidades, em 1938 nasce o nylon (náilon), da família da poliamida, conhecida como a primeira fibra têxtil sintética.
Em 1950, vem ao mundo o poliéster6, muito usado em ternos que nunca amarrotavam e dispensavam o vinco das calças.
Em 1955 a fibra acrílica: crylor7, da família dos acrílicos, desenvolvida pela Rodhia8, na França.
A dificuldade de consolidar as fibras no mercado existia, pois eram desconfortáveis e não contribuíam para a estética do vestir. As fibras que mais tiveram aceitação foram as de náilon, que foram feitas meias na década de 40. E o crylon, também conhecida por falsa lã, foi utilizado para produção de roupas de bebê.
O desenvolvimento e vontade de pesquisar as fibras sintéticas cresceram com o passar do tempo, entretanto, em 1960, há uma recuada na propagação destas fibras no uso das vestimentas.
Em 1970, uma nova fibra entra nesta seara é a fibra sintética de celulose, derivada da polpa da madeira, a viscose9. No entanto, seu nascimento deu-se um pouco antes de 1905.
Em 1990, a microfibra10, distribuída a partir de 1992, pela Rhodia – Brasil. Chamou atenção por ser um tecido leve, com toque agradável diferente que os feitos com os fios ou filamentos artificiais ou sintéticos. Possui alta resistência, encolhimento extremamente baixo, vestem muito bem, não amassam e oferecem bom isolamento quanto a vento e frio. Seduziu principalmente o gênero feminino, pois da praticidade, conforto e beleza.
A microfibra é o primeiro material que vai ousar e vai ser chamado de tecido inteligente.
Neste cenário a Rhodia do Brasil e Universidade São Paulo-USP, fizeram uma pesquisa, em que foi possível descobrir que a aplicação de microfibra nas roupas esportivas proporcionaria ao atleta uma economia de 10% de sua energia gasta na prática esportiva.
Desde então o mercado de consumo, bem como os estilistas, ainda de forma tímida vem conhecendo e adotando esse novo material que interage na vida cotidiana do indivíduo que o utiliza.
A indústria têxtil está desenvolvendo cada vez mais seus tipos, tanto que a nomenclatura dos nomes, não tem consenso, pode ser achá-los por diversos nomes como: tecidos tecnológicos, tecidos inteligentes, tecidos dermatológicos e tecidos interativos.
Como exemplo de fibras têxteis sintéticas, segue apresentação de algumas amostras de tecidos e apresentação de peças esportivas, produzidas pela Tecelagem Santa Constância.
Amostra Acquos11. Repele e protege 50 % a água. A alta resistência aos produtos químicos do Aquos® o torna ideal para uso em piscinas independentemente do tipo de água, sendo inclusive resistente aquelas com alta concentração de cloro, como o caso das piscinas destinadas a fisioterapias. Onde suas propriedades são mantidas mesmo após sucessivas lavagens.
Amostra Ligeiríssimo Pro.12. Os principais atributos são conforto térmico – transferência super rápida de calor e umidade entre o corpo / o tecido / o meio ambiente – Leveza e maciez, além de ser “easy-care”. – fácil lavagem, rápida secagem e não precisa passar, consumindo menos energia e tempo. Pode ser lavado em máquina desde que seja utilizada a redinha de lavagem apropriada para tecidos com microfibras e roupas delicadas.
Lembrete para finalizar...
O uso destes materiais ainda é recente no mercado têxtil, pelos estilistas, é raro encontrar peças de roupas em diferentes estilos, sua aparição fica por conta do segmento esportivo.
Pois, até então é neste seguimento que este material tem uma rápida percepção e sensação, já que assume imediatamente a interação entre roupa e espaço social, atribuindo uma linguagem inovadora
Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Wilton. O que é Design. São Paulo. Brasiliense, 2006.
CHATAIGNER, Gilda. Fio a Fio. Tecido, Moda e Linguagem. São Paulo. Estação das Letras. 2007.
ECO, Umberto. Das formas abstratas ao profundo da matéria. In: ECO, Umberto. História da Beleza. São Paulo: Record, 2004. Cap.XVI , p. 401-409.
FILHO, José Ferreira de Andrade. SANTOS, Laércio, Frazão dos Santos. Introdução à Tecnologia Têxtil. Rio de Janeiro: CETIQ/ SENAI, 1987.
Museu Paulista. Tecidos e sua conservação no Brasil: museus e coleções. São Paulo. Universidade São Paulo. 2005
PEZZOLO, Dinah Bueno. Tecidos. História, Tramas, Tipos e Usos.
Glossário de Tecidos inteligentes – Santa Constância
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6 Fibra sintética conhecida como tergal. Com baixo pode ser absorção, a fibra é utilizada só ou combinada a outra fibras, químicas ou naturais. Muito competitiva no mercado por seu baixo curto. Os avanços tecnológicos fazem com que essa fibra se torne cada vez semelhante ao algodão.
7 Confunde-se com tecido e seu nome determina também agasalhos leves, mantas e outras peças que precisam de suavidade no toque.
8 Empresa mundial de química de especialidades é líder em importantes mercados, reconhecida mundialmente nas áreas de polímeros, química e em formulações.
10 Nome genérico dado a tecidos químicos, sintéticos, obtidos de fios com filamentos individuais iguais ou menores que 1 dernier – as microfibras. Esses microfilamentos são produzidos com acrílico, poliéster, viscose ou náilon.
11 Produto exclusivo Santa Constância, utiliza como matéria prima a poliolefina modificada, material recentemente lançado pela Dow Química com a marca XLA® em âmbito mundial.
12 O tecido Leggeríssimo-Pró®, exclusivo da Santa Constância, foi desenvolvido com avançada tecnologia têxtil, originalmente concebido para atividades com altos níveis de transpiração como as corridas e aulas de ginástica de alto impacto.
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