A coleção Pluie, foi criada num processo criativo intenso, pois nela contém muito do descobrimento e desdobramento de pesquisa e observação acerca dos espaços urbanos, podem acreditar, os mais diversos.
O início da minha trajetória é marcada pela perspectiva acadêmica, afinal, sou formada em ciências sociais, diante tais experiências, que conto abaixo, fui levada à um novo espaço, ou melhor me posicionei diferente nele.
Umas das primeiras pesquisas que realizei foi sobre a violência na mídia, investigava a representação do criminoso na sociedade paulistana, para isso, estudei o falecido programa Cidade Alerta. A construção deste estudo era embasado nos conceitos de linguagem e discurso, empreendidos por Michel Foucault e Pierre Bourdieu.
Foi no perscurso do tratamento dos dados que me deparei que haviam formas específicas de representação, e para cada tipo de acontecimento ligado à imagem do criminoso, se adotava um tipo de linguagem, de uma forma estética, fazendo com que o discurso se propagasse com mais força.
Ainda,
Na busca pela compreensão da representação do criminoso na sociedade, construí um projeto de pesquisa que seria apresentando aos programas de pós graduação de universidades públicas, no departamento de antropologia, para investigar qual a representação que o criminoso faz da sociedade, observando suas representações visuais e plásticas, produzidas designadamente naquele tipo de espaço; O meio utilizado para análise eram entrevistas e fotografias com quem havia passado pelo espaço do cárcere, tive a oportunidade de fazer visitas ao espaço desativado da Casa de Detenção, o conhecido Carandiru. E através da fotografia, fui me aproximando cada vez mais da arte, dela enquanto ciência, produção de conhecimento.
Entretanto, no meio da construção deste projeto, comecei um campo de pesquisa etnográfica, acerca da trajetória dos juízes, por lá também analisava a performance dos agentes do judiciário, e a representação do criminoso, ali chamado de preso, que usava macacão, em cor amarela.
Já que minha curiosidade cientifica era observar a representação do criminoso, o espaço do Fórum, assim como o espaço do cárcere era constiuídos e construído por sua existência.
A pesquisa durou 4 meses, de agosto à novembro de 2006, um período em que há incidência de chuvas na cidade paulistana.
O espaço do Fórum empreendi um terreno gigantesco, há espaços descobertos, sobretudo, o da entrada principal. E numa tarde que chovia muito, quando entrava no Fórum percebi que as pessoas usavam seus pertences que poderiam ser bolsas, processos, sacolas ou livros nas cabeças para protegê-las.
Confesso que aquilo me inquietava, e muito! Já que muitos agentes judiciários utizavam o processo, ou seja, a narrativa dos fatos pra se proteger. Aquilo intrigava. Pensava, o processo é um objeto muito importante para a trajetória de um preso ou para o desenvolvimento do trabalho judicial e se perder uma folha, ter um borrão, um pingo d'água, algo ilegível tudo pode se transformar. Tudo pode ir por água abaixo.
E porque protejer a cabeça? O cabelo? Tronco, e não outra parte do corpo?
E na busca de respostas percebi que ali o espaço poderia ser mais do que um trânsito de pessoas, passei a observar como as relações sociais configuravam, o que havia nas relações e em suas formas de tratamento que eram diferenciadas conforme sua postura e sua vestimenta. Ali os signos da perfomance, da representação e da interação se aliavam num conjunto muito expressivo.
Pesquisando na literatura sociológica, antropológica, bem como na de moda, encontrei algumas respostas acerca da proteção do tronco e de algumas partes do corpo. Na qual diziam que a vestimenta é uma forma de diferenciação no espaço, e que a forma que a portamos, nos leva a determinados julgamentos, anuncia quem somos no espaço.
E isto é válido e legítimo para o campo do direito. Imagina falar com o juiz de cabelo molhado? As recomendações de marketing pessoal para este público, ou as cobranças feitas de forma inconsciente certamente rechaçariam o profissional amassado, molhado ou sujo. Notando que em nossa sociedade o cabelo, a boa aparência' dá aspectos de pureza e de confiabilidade.
Mas ainda se perguntava: e o uso do guarda-chuva, ele seria pra isso? Proteção. Mas ele é pesado, e nem sempre estamos com ele na bolsa.
E porque não existe um objeto fácil de carregar, simples, elegante e que protege os pertences? Como lenços, bandanas, bolsas ou envelopes, e até mesmo casacos.
Pensei, pesquisei e fui à busca de tecidos que pudessem atender aos meus questionamentos.
E, encontrei!
Eram tecidos com proteção a água, os impermeáveis. E após descobri o de proteção ao sol, que medem até a quantidade de ultra violeta.
Pronto! Agora poderia proteger os documentos dos presos e dos libertos!
Mas era preciso relacionar os tecidos impermeaveis encontrado que eram feitos de tapeçaria, utilizados para sofá, cadeiras, com a necessidade apresentada por aquele público, ou até mesmo, por esta cidade, que sofre durante o dia diferentes momentos climáticos.
A ideia não saia da cabeça!
Comprei os tecidos impermeaveis, e sempre que reunia os amigos contava a ideia, falava do conceito que poderia construir ... E foi com esta pesquisa informal que concebia os objetos, que pensava em sua cores, em seus formatos ...
Com isso, fui me encorajando para criação dos produtos e sugiram 3 linhas.
Aos poucos fui entrando no universo da pesquisa em moda, procurando literatura, participando de cursos, até me inscrever num programa de pós-latu sensu em moda. Lá fiquei pouco, sentia que o momento estava para a aplicabilidade e nem tanto para a teoria.
Porém, descobri que há poucas pesquisas acadêmicas sendo empreendidas sobre tecidos, e diminui o número quando se fala em tecidos inteligentes, dermatológicos, interativos ou tecnológicos.
Vale ressaltar, que esse tipo de material é denominado como novos materiais do design de moda, conforme Umberto Eco, classifica em seu livro História da Beleza.
Deste modo percebia que o campo estava vago e que pode ser preenchido...
Encorajei-me e nasceu a coleção Pluie.
Pluie de chuva, de proteção à água...
Inspirada no livro "O Pano do Diabo - Uma história das listras e dos tecidos listrados" de Michel Pastoureau.
A coleção é composta por cores vibrantes e listras, contrapondo a ausência de cores do cotidiano urbano, do corre-corre diário, indiferente se o espaço é aberto ou fechado. Assumindo uma expressão geometrica, marcada pela forma estética. São sacolas retangulares, bolsas circulares e trapézios, envelopes em tamanhos proporcionalmente definidos em p, m e g.