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28 de agosto de 2011

Branca Cambraia - Crônica

(…) Assim, os tecidos são capazes de produzir sentidos a partir do
reconhecimento de sua constituição (…), dado que no contato com o corpo,
esses vão gerar efeitos de sentido de maciez ou aspereza, flexibilidade ou
rigidez, lisura ou rugosidade, transparência ou opacidade, resistência ou
fragilidade, acolhedor ou distanciador. (CASTILHO, 2007)

Era uma manhã fria de sábado, Branca Cambraia, acordou envolvida no seu lençol de 600 fios de algodão egipícios. Seu corpo vestia um pijama feito em seda, e para manter sua temperatura aquecida durante o período noturno, estava embrulhada em um edredon feito de algodão. Branca Cambraia acreditava que com esta organização de tecidos, sobre o seu corpo, teria um sono tranquilo e relaxante. Componentes necessários após um dia de trabalho, no qual tinha usado sapatos com 8cm de salto, feitos de pelica, ordenados com a bolsa. E um vestido, feito de crepe, sobreposto, a uma meia calça feita de elastano, vestimenta concebida para um dia de reuniões de trabalho.

Branca Cambraia, agora acordada, estava desperta para caminhar até o toillete. Entretanto, acreditava que sua casa era fria, pois seu chão não era revestido de carpete, feito em lã de pelo de ovelha. Assim, ao sair do seu embrulho de tecidos composto por fios de algodão egipícios e seda, rapidamente colocou seus pés, um chinelo de crochê, feitos em fios de 100% algodão. Que estava sobreposto, em seu tapete na beirada da cama, tramado em fios de algodão e hemp.

Ao chegar no toillete, como todas as manhãs, lavou o seu rosto para deixà-lo como ‘seda’. Enxugou- o em uma toalha feita em tecido de algodão. Retirou seus pés do chinelo, e os transferiu para o tapete do banheiro feito em tecido de gorgurão atoalhado. Tomou seu banho, desligou o chuveiro e ligeiramente levou ao seu corpo toalhas feitas em tecido 100% algodão, que estava estendida nas proximidades do box. Uma toalha cobria o corpo, e a outra era para o seu cabelo; Saiu do box e ao longo do banheiro, se cobriu com um roupão feito de seda chinesa.

Retornou ao quarto, retirou as toalhas e o roupão que protegiam o seu corpo. Agora com o corpo seco e macio, ela poderia receber novas vestes. E como era sábado, dia de decanso, e não pretendia sair de casa, deveria vestir-se com “roupas para ficar em casa”.

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CHANTAIGNIER, Gilda. Fio a Fio. Tecidos, moda e Linguagem.3°edição. São Paulo: Estação das Letras, 2007.

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Michelle Medrado é antropóloga formada pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, e tem pós-graduação pela Faculdade Santa Marcelina. Lecionou no Senac São Paulo de 2005 a 2009. Hoje mora em Los Angeles e atualmente está estudando na UCLA no curso “The Business of Creativity. Tem uma grife, que leva o seu nome, de acessórios feitos em tecidos tecnológicos.

Matéria originalmente publicada na minha coluna "Acadêmico" na Capricornia.

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